Fazia vinte seis anos que aquela planta a acompanhava. A jovem adotou-a vendo-a jogada na calçada com as raízes expostas, mas ainda era uma planta bem pequenina.
Logo depois de um ano ela fortaleceu-se e ficou frondosa, a jovem casou-se e carregou-a junto. Hoje, após tantos anos de vida, a planta bate no teto do alto pé direito da sala.
Meses antes do casal completar vinte e cinco anos de união, a esposa ofereceu um chá da tarde à algumas amigas e havia a presença de uma sábia senhora. E foi ela quem contou para a anfitriã o curioso nome da tão querida planta:
-Que coisa linda está essa planta! – disse impressionada a sábia senhora.
-Ela está comigo há vinte seis anos. – orgulhou-se a então esposa.
-Que maravilha! O nome dela é Pau da felicidade, sabia? Os japoneses a cultivam bastante. Muito bom você ter esta planta em casa e ainda mais há tanto tempo – a senhora parabenizou.
A dona da planta então pensou:
“Coincidência ou não, o fato é que o atributo masculino homônimo da planta que pertence ao meu marido me fez feliz nesses anos todos” – então contou para as convidadas o que tinha visto:
-Sabia que lá em baixo – ela morava no segundo andar de um prédio – tem um vaso com essa planta ainda pequena? Vou ver se o zelador dá ela pra mim.
Na mesma hora, todas as convidadas – menos a senhora sábia – abandonaram os deliciosos petiscos do chá e correram para a janela, afim de avistar o Pau da felicidade.
Quando os olhos de uma delas – vizinha da anfitriã – focou na planta e constatou que ela era ainda pequena e com grande potencial para crescer, garantindo muita felicidade, esbravejou:
– Eu também moro aqui, tenho o mesmo direito que você de ter esta planta.
– É, mas a ideia foi minha.
-Mas acontece que você é casada há anos e eu nem casei ainda. Quem merece mais esta planta?
A anfitriã, sem querer derramar a xícara de chá, somente disse:
-Tá bom.
Passaram-se cinco meses depois daquela tarde e nem uma nem a outra se mexeu para levar o pequeno Pau da felicidade para dentro de casa. Até que na data das bodas de prata do casal proprietário do grande Pau da felicidade, a esposa colocou em prática o que havia planejado para este grande dia: antes mesmo que o marido acordasse, convenceu o zelador a lhe dar o vaso da plantinha para garantir mais vinte e cinco anos de sucesso matrimonial.
Quando o marido acordou, abriu a porta da casa e surpreso viu aquele conhecido pedaço de flora. Na mesma hora ele tudo compreendeu, retribuindo com um beijo cinematográfico à criativa esposa.
No dia seguinte, a vizinha foi à casa da esposa e vendo o novo pauzinho num lugar de destaque, surpreendeu-se com a ousadia da outra. Mas não se deu por vencida.
Quando no mesmo dia a esposa voltava do trabalho levou um susto ao constatar que sua querida renda portuguesa, que crescia há dois anos embelezando seu corredor externo havia sumido. Ela amava aquela planta, como amava todas as outras. Contava cada uma das folhas rendadas que iam nascendo – na última contagem já havia doze. Todos que passavam pelo corredor acabavam esbarrando em alguma delas de tão exuberante que estava a planta.
Ela sem acreditar no que não estava vendo pensou:
-Onde foi parar minha planta? E no mesmo momento viu seu vizinho – justamente quem havia lhe dado a renda:
-Você sabe o que aconteceu com a minha planta? Perguntou a mulher curiosa por desvendar o mistério.
-Fui eu que dei pra Maria – a tal vizinha – Ela queria colocar a planta no sítio dela. Mas pode deixar, que eu te arranjo outra.
Como ele também ajudava a cuidar das plantas da mulher e tinha lhe dado a renda, sentia-se no direito de poder decidir sobre o destino do pequeno jardim.
A mulher ficou tão absurdada que só conseguiu responder:
-Tá bom.
Mas entrou em casa certa de que esta tinha sido a vingança da sua vizinha que não aguentou vê-la com tanto Pau da felicidade.
Mas a história não acaba por aí. O melhor de tudo foi quando no dia seguinte o vizinho tratou de repor a renda:
-Então, cê viu que já plantei a renda, peguei lá no jardim do shopping.
-Ah, obrigada. – A mulher olhou todo seu pequeno jardim, mas não avistou a planta, quando de repente ele apontou para um pedacinho de madeira que saía da terra, sem nenhuma folha rendada:
-Olha, ela tá aqui. Daqui há um ano as folhas vão crescer. Você vai ver.
E a esposa sem perder o rebolado rapidamente se satisfez com o que lhe prometia o destino:
“Mas afinal, o que é ficar um ano sem folhas rendadas, se terei o Pau da felicidade por mais vinte e cinco?”